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Boletim Espiritual Franciscano Nº04 - Julho/Agosto/18

Apostolado Espírito Franciscano

Boletim Espiritual Franciscano nº 04, julho/agosto de 2018:


Destaque: A Salvação da Alma;

A salvação da alma é a maior preocupação com que um cristão deve ocupar-se em sua vida;

A importância de se buscar a salvação da alma, por Padre Stefano Maria Manelli;
O maior inimigo da nossa salvação: o demônio;
Quanto tempo eu tenho para me salvar?








Ave Maria puríssima – Sem pecado concebida.

Saudações a todos os leitores e seguidores do Apostolado Espírito Franciscano nas redes sociais!

Em cada edição dos nossos boletins espirituais nós trazemos alguns temas muito pertinentes para a vida e progresso espiritual. Para esta edição não conseguimos imaginar outro tema de tão grande importância quanto a salvação eterna. Compilamos alguns escritos do Padre Stefano Maria Manelli, grande sacerdote diretor de almas e fundador da comunidade dos Frades Franciscanos da Imaculada no início dos anos 70, contidos em seu livro “Um mês com Maria”, onde três capítulos especiais foram trazidos para este boletim, cuja temática é unicamente sobre a salvação da alma. São meditações fortes, profundas, mas com linguagem simples. A importância do Santo Rosário, da frequência dos sacramentos e da penitência é largamente apontada em seus escritos como meios eficazes de santificação.

Também pedimos aos nossos leitores que rezem pelo nosso Apostolado, principalmente pelo nosso primeiro encontro espiritual que acontecerá no mês de outubro na cidade do Recife, Pernambuco, e que contará com a presença de um Bispo da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos como principal pregador!
Desejamos que estas páginas possam ser de muita utilidade para todos e que, se apenas uma alma sentir a compulsão em querer mudar de vida, a nossa missão já terá sido cumprida.

Pax et bonum! T
Rodrigo Gonzaga
Administrador do Apostolado Espírito Franciscano.




A salvação da alma é a maior preocupação com que um cristão deve ocupar-se em sua vida

A salvação das nossas almas é o dever mais grave que um cristão tem nesta vida, e de nada servirá ao homem se durante a sua passagem na terra ele não tiver buscado a salvação eterna. Do mesmo jeito que existe um Céu onde seremos felizes eternamente, também existe um inferno que a destinado para aqueles que viverão infelizes eternamente. A partir do pecado original, o gênero humano perdeu a amizade com Deus, e com isto, perdeu também o Céu. Da mesma forma que este pecado foi de gravidade infinita, a reparação que se devia por ele também deveria ser de uma gravidade igualmente infinita. Os sacrifícios do Antigo Testamento não apagavam pecados, pois o sangue de animais não possui valor diante da Divina Majestade para reparar as ofensas causadas pelos homens. O Cordeiro Divino, o Verbo Encarnado, cujo lado foi aberto pela lança, e de onde saiu o seu Preciosíssimo Sangue e a puríssima água, sinal do Sacrifício e da subsequente purificação. Com o sacrifício na Cruz, Cristo abriu o céu para os homens, abriu o canal de graças e do tesouro infinito de bênçãos celestiais a todo gênero humano. Apesar de Cristo ter mostrado toda sua santíssima bondade morrendo por nós, os homens fazem as vezes do Ladrão que estava ao seu lado na Cruz: fazem escárnio, proferem injúrias e perpetram insultos e ofensas contra Nosso Senhor.

Mas como podemos obter o perdão das nossas inúmeras faltas e buscarmos os tesouros de graças para nos santificarmos? Por meio da Santa Igreja que Cristo nos deixou, onde somente nela existem os Sacramentos que mantém a vida e o estado de graça que recebemos por meio do Batismo. Com o batismo deixamos de ser filhos do demônio e recebemos a filiação adotiva de Deus. Com a Confissão obtemos o perdão dos nossos pecados mortais e a remissão das faltas veniais, e ainda recebemos do Céu o reforço da graça para não mais pecarmos, e recebemos inúmeras graças quando recebemos a Sagrada Eucaristia, o próprio Jesus Cristo que se faz presente na Hóstia Consagrada do mesmo modo em que Ele se encontra no Céu, com o seu Corpo, Sangue alma e Divindade, para ser amado e adorado. Na Eucaristia, unimos a nossa carne maculada pelo pecado com a carne puríssima de Cristo que foi gerada no ventre puríssimo da Virgem Maria, unimos o nosso sangue de pecadores com o Preciosíssimo Sangue do Senhor, unimos a nossa alma maculada de pecados com a Alma Santíssima de Jesus e toda a nossa miséria com a Divindade do Verbo Encarnado. Quando frequentamos os sacramentos e buscamos viver uma vida de constante oração e santidade, a nossa alma recebe o poder sobrenatural que provém da fonte eucarística, sendo fortalecida nos combates contra o demônio.
Quando a alma se encontra em estado de graça e frequentemente comunga do Corpo do Senhor, mais facilmente poderá vencer as tentações do demônio, da carne e do mundo. Quando a alma, humildemente se põe aos pés do confessor, ela se coloca diante do tribunal de Deus, e acusando os seus pecados de modo sincero e com verdadeiro desejo de reparação e firme propósito de arrependimento, recebe-se pelas mãos do sacerdote que, in persona Christi, a absolvição dos pecados. 

Além de buscarmos o perdão dos nossos pecados na confissão e o auxílio de Cristo na Eucaristia, devemos também buscar a reparação dos pecados cometidos contra Deus, e de muitos modos distintos é possível fazê-lo: com jejuns, abstinências, penitências corporais e privações voluntárias, com o Rosário, cilício, mortificação dos sentidos etc, e mais perfeitamente podemos fazê-lo com uma discreta, mas consistente direção espiritual com um santo sacerdote. Tudo isto o que devemos fazer não se trata de escrúpulos ou de farisaísmo, mas de um dever que temos como cristãos em buscarmos a santidade e de repararmos os pecados cometidos por nós e pelo mundo inteiro da mesma forma que os grandes santos assim o fizeram e desejamos também imitá-los para que, ao final da nossa vida, possamos escutar de Nosso Senhor em nosso julgamento: "Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor" (S. Mateus 25, 21)”.

Rodrigo Gonzaga



A importância de se buscar a salvação da alma
Por Padre Stefano Maria Manelli

Padre Stefano, filho espiritual de São Padre Pio de Pietrelcina.

Maria apareceu em Fátima para nos lembrar, sobretudo, da necessidade da salvação da alma. Por isso ela recomendou com insistência aos 3 pastorinhos de rezar e fazer penitência pela conversão dos pecadores: "Muitas almas vão para o inferno porque não há quem reze e se sacrifique por elas!". Antes de mais nada, Maria se preocupa em salvar as nossas almas. Na verdade, Ela se preocupa também com nossas necessidades temporais; mas a Graça que Ela quer nos conceder antes de todas as outras é certamente a salvação da alma. Essa é certamente a Graça das Graças, a Graça que vale a eternidade do Paraíso. O Apóstolo São Pedro escrevia aos cristãos: "Conseguindo a meta da Vossa Fé, isto é, a salvação das vossas almas". (I Pd 1,9) Mas nós, que conta fazemos da salvação da nossa alma? Nos preocupamos mesmo? Como é triste, infelizmente, dever responder que muitas vezes fazemos como aqueles filhos doentes que, ao invés de pensar em fazer a devida cura e recobrar a saúde, são indiferentes à cura e só pensam em divertir-se! 

É possível que não entendamos como seja de primária importância trabalhar principalmente para a salvação da alma? Lucro, estudo, trabalho, divertimento, comércio, família, carreira são coisas secundárias com respeito à salvação da alma. "De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro se depois perde a sua alma?" (Mt 16, 16) E ainda em parábola: "As terras de um homem rico tinham tido uma boa colheita. E ele, consigo mesmo, assim pensava: como farei se não tenho mais lugar para guardar a minha colheita? Eis, disse, farei assim: demolirei os meus celeiros, construirei outros maiores, onde guardarei toda a minha colheita e os meus bens; depois direi à minha alma: ó Alma, tens uma grande reserva de bens por muitos anos; descansa, come, bebe e diverte-te! Mas Deus lhe disse: Louco! Esta mesma noite te será tirada a vida; e aquilo que preparaste pra quem será? Assim será também para quem acumula tesouros para si, mas não cuida de ter o que para Deus." (cf. Lc 12, 16-21) Poderia falar Jesus mais claro no Seu Evangelho? Por que esquecemos disso ou não lembramos como deveríamos? Bom para nós que Nossa Senhora nos vem lembrar disso com amor materno e nô-lo recorda também neste lindo mês.

Uma devoção especial que salvou uma alma:

Eis um exemplo muito instrutivo: Em Ars, um dia, chegou uma senhora abatida pela dor que a levava ao desespero. Poucos dias antes tinha perdido o marido tragicamente. Suicidara-se, jogando-se de cima de uma ponte, num rio. A mulher era atormentada pelo pensamento da danação do marido. Entretanto, na igreja de Ars, a pobre mulher logo se ajoelhou para rezar e chorar. Era a 1ª vez que ia a Ars. O santo Cura d'Ars, passando-lhe ao lado, sussurrou-lhe aos ouvidos: "Ele está salvo!". "O que?" - exclamou a mulher. "Ele está salvo!" - repetiu o santo - "Está no purgatório e precisa rezar muito por ele. Entre o parapeito da ponte e o rio teve tempo de se arrepender. Foi Nossa Senhora quem lhe obteve a graça. Lembre-se do mês de maio que fazia no quarto. Às vezes seu marido, embora não religioso, se unia à sua oração e às vezes até punha uma flor junto à imagem de Maria. Isto lhe obteve o arrependimento e o extremo perdão!".

Quem toma conta da salvação da alma se assemelha a Maria de Betânia que está aos pés de Jesus, atenta às Suas palavras de vida eterna. Marta, ao invés, se perde atrás de muitas coisas. É a imagem daqueles que se preocupam com as coisas terrenas e secundárias e não tem tempo para cuidar da alma. Mas a salvação da alma é sempre "a única coisa necessária!" (Lc 10, 42). Quanta bobagem em nossa vida se entre os perigos do mundo, não ligamos para esta única coisa necessária. Em uma carta escrita por São Gabriel de Nossa Senhora das Dores a um seu companheiro de Liceu está escrito: "Tens razão de dizer que o mundo é cheio de perigos e tropeços, e que é muito dificil salvar-se a nossa única alma; nem por isso deves perder a coragem. Amas a salvação? Foge aos maus companheiros; o teatro onde muito amiúde se entra em Graça de Deus e se sai depois de tê-la perdido ou posta em grande perigo. Amas a salvação? Foge às conversações muito livres, aos livros maus que podem fazer a todos um mal sem fim. Demos ouvidos aos Santos! Usemos os meios de guarda para salvar a nossa alma. "O que poderá dar o homem em troca de sua alma?" (Mt 16, 26)

Um dia padre Pio passava lentamente entre uma multidão de homens. Um jovem lhe gritou de longe: "Padre, me diga uma palavra decisiva. O que devo fazer?" Padre Pio olhou-o com profundidade e disse-lhe: "Salve a tua alma!" Eis o essencial, todo o resto passa! A salvação da alma dura eternamente. E Nossa Senhora quis nos assegurar a salvação com a nossa colaboração do uso dos meios da salvação: a oração, os sacramentos, a penitência, as boas obras e em especial, a devoção mariana. Também São Francisco de Assis na famosa visão de Frei Leão, em cima da escada branca e da escada vermelha, assegura-nos que a devoção a Nossa Senhora é garantia de salvação. De fato, todos os que subiam pela escada em cima da qual estava a Bem-Aventurada Virgem chegavam ao Paraíso; aqueles da escada vermelha, quanto esforço em vão! 


...e o maior inimigo da nossa salvação: o demônio

Satanás aparece nos inícios do gênero humano, apresenta-se desde o início um homicida, mentiroso e pai da mentira "Consegue fazer cair os nossos antepassados Adão e Eva e se torna o príncipe deste mundo” (2 Cor 4,4) e acusador dos nossos irmãos (Ap 12,10). Com o pecado original, todo o mundo jaz sob o maligno (I Jo 5,19) e os demônios são dominadores deste mundo tenebroso (Ef 6,12). Como aparecem tenebrosos os primeiros acontecimentos à Humanidade Nova por causa deste infernal assassino que possui o império das trevas (Lc 22,53). Pe. Pio escreveu em uma carta ao seu Diretor espiritual contando que ele viu a figura monstruosa de Satanás em seus sonhos. Era um ser horrível e gigante, alto como uma negra montanha. São Pedro, o primeiro Papa, o apresenta como a imagem de um leão que ruge sempre pronto a devorar-nos (I Pd 5, 8-9). Como o tortura a inveja porque nós podemos nos salvar! Ele nos quer todos no Inferno.

Uma cena estupenda nos aparece no início da humanidade dominada por Satanás e oprimida pelo pecado. Uma mulher sublime, com o seu Filho, “amassa a cabeça da serpente” (Gn 3,15). A Imaculada, vencedora de Satanás, brilhante nas trevas do pecado, com o seu Divino Filho, é a desafeta de Satanás. No Gênesis, Deus apresenta a Imaculada semelhante a aurora que se eleva maravilhosa sobre a noite da humanidade pecadora. Em Cântico dos cânticos, o autor inspirado exclama: "Quem é aquela que avança como aurora, bela como a lua, eleita como o sol, tremenda como exército formado?" (6,9). É a Imaculada, Guerreira invencível, Senhora das vitórias, Terror dos demônios. Santa Bernadete nos narra em Lourdes que viu ao lado da gruta uma turma de demônios que berravam gritos infernais. Assustada, a santa olhou a Imaculada; bastou um olhar severo de Maria para eles e fugiram. Assim o demônio, em frente à Imaculada, demonstra o que significa seu nome (Belzebu): deus das moscas.

A tática do diabo é alegrar os sentidos e a imaginação do homem para perder o seu espírito. Se apresenta como um conselheiro e um servidor em luvas amarelas, com ofertas de bens e prazeres sedutores a ganhar. Fez isso com Eva (Gn 3, 1-7) com Jesus (Mt 4, 1-11) e com os santos de todos os tempos: São Bento, São Francisco de Assis, Santa Teresa D'Ávila, Santo Cura d'Ars, São João Bosco, São Pe Pio... Hábil e na defensiva, o demônio sabe servir-se de tudo para nos arruinar: a imodéstia de Davi (2 Sm 11, 2-26), a gula de Esaú ( Gn 25, 29-34) o apego às riquezas de Ananias e Safira (At 5, 1-10). Ele tenta até propor coisas aparentemente úteis para as almas. Sabe-se que Cura d'Ars pregava de maneira simples, fecunda de graças para as almas. Cheio de ódio, o diabo foi a ele exortando-o a pregar de modo difícil, assegurando-lhe a fama de grande pregador. O santo percebeu o engano, recusou-se e continuou com seus sermões simples e eficazes. Pagou com muitos despeitos furiosos que o demônio lhe fez dia e noite.

Satanás tem uma obra-prima: convencer os homens que ele não existe. Conquistando isso, trata os homens como bonecos. Pe. Pio escutou um sermão onde o orador nada fazia mais que perguntar-se sobre a existência do diabo. No final o orador concluiu que ele existe. Passado o sermão, Pe. Pio advertiu-o dizendo-lhe que ao se falar do demônio, deve ser preciso em afirmar sua existência e sua ação nefasta no mundo. Ao final, acrescenta-se a existência dos "Quatro estúpidos" que ousam negar a existência do diabo. Hoje são mais que quatro, e há até na Igreja, infelizmente. Tanto é verdade que Paulo VI teve que intervir expressamente em um discurso (15/11/1972) para confirmar a verdade da fé sobre a existência de Satanás como pessoa e constatou amargamente como a "fumaça do diabo" está fumegando na Igreja. A uma de suas filhas espirituais, Pe Pio disse: "Se se pudesse ver a olhos nus quantos demônios invadiram a Terra, não mais veríamos o Sol". Contra estes apóstatas, qual não deve ser nossa defesa? 

Jesus nos preveniu contra as insídias do diabo. Ele nos ensinou no Pai-Nosso: "Não nos deixeis cair em tentação" (Mc 14,38). A guarda e a oração são as duas maiores forças do homem contra o demônio. Façamos nossa a recomendação de Pe. Pio: "Filho, o inimigo não dorme! Esteja alerta com a guarda e a oração. Com a 1ª avistaremos; com a 2ª teremos arma para nos defender". A guarda nos faz avistar as ocasiões perigosas (uma leitura, um espetáculo, uma pessoa, um lugar, uma vontade...). A oração nos dá força de evitar os perigos, de fugir às ocasiões como recomendava São Felipe Néri. Santo Agostinho ensina que o demônio é só um cão amarrado, e só pode morder quem dele se aproxima. Ao largo, então! Se o demônio se faz insolente, escutemos a palavra de S. João Bosco que dizia aos seus jovens: "Quebrai os cornos do demônio com a Confissão e a Comunhão".

São Maximiliano Maria Kolbe, Franciscano Conventual, escreveu que "a serpente levanta a cabeça em todo o mundo, mas a Imaculada lhe pisa em vitórias grandiosas". Para abater o demônio de modo mais humilhante, precisamos recorrer à Imaculada. O demônio tem pavor d'Ela que sozinha é terrível como um exército formado (Ct 6,9). Quando Santa Verônica Giuliani era atacada fisicamente pelo demônio, ao conseguir invocar Nossa Senhora, o demônio fugia precipitadamente, gritando: "Não invoque minha inimiga!". A oração Mariana mais forte contra o demônio é o Rosário. Uma vez lhe perguntaram durante um exorcismo, qual oração ele mais temia. Respondeu: "O Rosário é o meu flagelo". Se os cristãos levassem consigo e usassem amiúde este flagelo dos demônios, quantas ruínas, desventuras e pecados a menos sobre a Terra.


Quanto tempo eu tenho para me salvar?

Na Terra Deus me dá o tempo para me salvar e me santificar. "Ele nos quer todos salvos". (I Tim 2,4), quer a nossa "Santificação" (I Ts 4,3) e nos dá a possibilidade através do arco de tempo estabelecido para a nossa vida terrena. O arco do tempo pode ser mais ou menos longo. São Domingos Sávio se santificou vivendo somente 15 anos. Santo Afonso Maria de Ligório, vivendo 91 anos. A medida do tempo está nas mãos de Deus, "patrão da vida e da morte" (Sb 16,13). Nós devemos só utilizar o nosso tempo segundo a finalidade para a qual Deus nos criou, ou seja: "para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo nesta vida e depois adorá-Lo no Paraíso", segundo o catecismo de São Pio X. Isto significa: "Operar o bem enquanto tivermos tempo". Como recomendava S. Paulo (Gl 6,10). Tudo me deve servir para conseguir o gozo eterno do Paraíso que consiste na visão beatífica de Deus. Se assim não for, se trabalha inutilmente, perdendo incalculáveis méritos e energias. A um velho eremita, um dia, perguntaram a idade. "Tenho 50 anos", respondeu. "Não é possível! - respondeu o visitante - Tens, certamente, mais de 70.". "É verdade - respondeu - A minha idade seria 75, mas os primeiros 25 eu não conto, pois passei longe de Deus".

São Bernardo dizia: "Todo o tempo que não usamos para Deus é perdido". Por isso, São Luiz Gonzaga, como tantos outros santos, se propôs de perguntar-se antes de cada ação: "A que me serve para a eternidade?" E refletindo profundamente, compreendeu bem como valesse a pena renunciar a posse de um principado e a um futuro de glórias terrenas para se consagrar inteiramente a Jesus e a aquisição da Glória Eterna, consumindo-se de amor por Deus e pelo próximo. Santo Afonso Maria de Ligório obrigou-se com um voto especial: o de não perder um átimo de tempo! E o observava com um heroísmo que comovia. Quando escrevia por horas e horas aquelas páginas de doutrina e de piedade que iluminavam tantas almas, se às vezes lhe doía a cabeça, apertava com uma mão uma pedra sobre a testa e com a outra continuava a escrever. Se quiséssemos examinar o uso do nosso tempo e a finalidade das nossas ações, não é verdade que deveríamos pôr as mãos na cabeça? Quanto tempo perdido! Talvez estejamos prontos para dizer de não ter tempo nem para qualquer minuto de manhã e à noite, ou para dizer um Terço (15 minutos), ou para fazer uma boa obra... E depois não nos damos conta de perder a cada dia horas de tempo livre vendo televisão ou indo ao cinema, aos bares ou à rua, ou indo ao campo de futebol entre cigarros, canções e conversas fiadas. Este é o uso do tempo livre de muitos cristãos! 

O que dizer da finalidade sobrenatural que deveriam ter as nossas ações? Agimos somente com finalidade de lucro. Se faz tudo por interesse. Se trabalha só pelo dinheiro. E que prontidão súbita quando devemos nos queixar por inconvenientes incômodos ou perdas! É tudo calculado. Tudo me deve dar o máximo de rendimento e gozo com o mínimo esforço. Talvez no nosso comportamento não exista nem um sopro de Amor a Deus, um aceno de intenção sobrenatural, um odor de elevação à finalidade mais alta pela qual um cristão deveria agir. "Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo pela Glória de Deus". (I Cor 10,31). Como faremos juntos de Deus? Se é verdade que um dia prestaremos conta até de cada palavra ociosa (Mt 12,36) tanto mais prestaremos conta de cada minuto perdido.

Em um minuto de tempo se podem fazer diversos atos de Amor a Deus. Assim faziam Santa Bertila Boscardin que passava pelos quartos do Hospital recitando amorosamente o Rosário. Nós, ao invés, passamos de ação em ação, de lugar em lugar só atentos ao nosso interesse. Mas não nos iludamos: "aquilo que o homem semear, aquilo colherá!" (Gl 6,8). Se enchermos o nosso tempo de ações feitas para Deus, colheremos um dia a visão serena de Deus. Se ao contrário, colheremos os sofrimentos do Purgatório, ou, não queira Deus, do Inferno Eterno!

Olhemos um modelo de Santo nosso contemporâneo: São José Moscatti, grande médico napolitano. Não viveu muito, mas encheu seu tempo de coisas nobres e santas. Todos os dias ele começava sua jornada às 5 horas da manhã, com duas horas de oração recolhida e intensa. Fazia sua meditação, participava da Santa Missa, recebia a Santa Comunhão e fazia um longo agradecimento. Sem estas 2 horas e sobretudo sem a Santa Comunhão, ele dizia não ter coragem de entrar na sala médica para visitar os doentes. Logo depois das 2 horas de oração, entrava nos becos de qualquer bairro da velha Nápolis, descia a qualquer gueto ou subia em qualquer porão a visitar gratuitamente doentes em condições penosas e miseráveis. Continuava a sua manhã com a escolha e com as visitas médicas no Hospital. Antes de uma diagnose, nos momentos de dificuldade, punha a mão no bolso, apertava o Rosário por um momento, rezava a Nossa Senhora. Durante as visitas não era menos preocupado de recomendar aos enfermos a cura da alma, dando conselhos e avisos concretos, como aqueles de confessar-se e comungar. Ao meio dia, ao soar o sino do Ângelus, embora estando em sala médica, recitava sem falta a Oração, convidando os presentes a rezarem com ele. De tarde continuava as visitas médicas em casa até o pôr-do-sol. Fechava seu dia com a visita ao Santíssimo Sacramento, com a recitação do Santo Rosário e as orações noturnas. Morreu durante as suas visitas médicas, amando os corpos e as almas dos enfermos. Eis um verdadeiro cristão que "operava o bem enquanto tinha tempo". (Gl ,10). 

Padre Sfetano Maria Pio Manelli,
Fundador dos Frades Franciscanos da Imaculada




Boletim Espiritual Franciscano
Uma iniciativa do Apostolado Espírito Franciscano - "Servite Pauperes Christi"
Autor: Rodrigo Gonzaga


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