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O amor de São Francisco com os pobres

(Capítulo 28 do livro da Primeira Vida de São Francisco) - Caridade e compaixão para com os pobres. O que fez por uma ovelha e uns cordeirinhos.


Pai dos pobres, o pobre Francisco queria viver em tudo como um pobre; sofria ao encontrar quem fosse mais pobre do que ele, não por vanglória mas por íntima compaixão. Não tinha mais do que uma túnica pobre e áspera, mas muitas vezes quis dividi-la com algum necessitado.. Movido de enorme piedade, no tempo de maior frio, esse pobre riquíssimo pedia aos ricos deste mundo que lhe emprestassem mantos ou peles para poder ajudar os pobres em todas as partes. E como eles o atendiam com devoção e com maior boa vontade do que a do santo pai aos lhes pedir, ele dizia: "Eu recebo isto com a condição de vocês não ficarem esperando devolução". E logo que encontrava um pobre ia todo alegre cobri-lo com o que tivesse recebido. Doía-lhe muito ver algum pobre sendo ofendido, ou ouvir alguém dizendo palavras de maldição para qualquer outra criatura. Aconteceu que um irmão disse uma palavra má a um pobre que pedia esmolas, pois lhe falou: "Veja lá que você não seja um rico que está se fingindo de pobre". Ouvindo isso, o pai dos pobres, São Francisco, teve uma dor muito grande e repreendeu o frade com dureza. Mandou que se despisse diante do pobre, beijasse os pés dele e lhe pedisse desculpas. Costumava dizer: "Quem amaldiçoa um pobre injuria o próprio Cristo, de quem é sinal, pois ele se fez pobre por nós neste mundo". Por isso era frequente que, ao ver algum pobre carregando lenha ou outra carga, ajudasse com seus próprios ombros, tão fracos. Tinha tanta caridade que seu coração se comovia não só com as pessoas que passavam necessidade mas também com os animais sem fala nem razão, os répteis, os pássaros e as outras criaturas sensíveis e insensíveis. Mas, entre todos os animais, tinha uma predileção pelos cordeirinhos, porque a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo foi comparada muitas vezes na Bíblia à do cordeiro, e com muito acerto. Gostava de ver e de tratar com carinho todas as criaturas, principalmente aquelas em que podia descobrir alguma semelhança alegórica com o Filho de Deus. 

Numa ocasião em que viajava pela Marca de Ancona e tinha pregado a palavra de Deus nessa cidade, dirigiu-se a O'simo com o senhor Paulo, a quem tinha constituído ministro de todos os frades naquela província. Encontrou no campo um pastor apascentando um rebanho de cabras e bodes. No meio das cabras e dos bodes havia uma ovelhinha, a andar humildemente pastando sossegada. Vendo-a, São Francisco estacou e, com o coração tocado por uma dor interior, deu um suspiro alto e disse ao irmão que o acompanhava: "Não estás vendo essa ovelha mansa no meio das cabras e bodes? Era desse jeito que Nosso Senhor Jesus Cristo andava, manso e humilde, no meio dos fariseus e dos príncipes dos sacerdotes. Por isso eu te peço por caridade, meu filho, que te compadeças dessa ovelhinha comigo, e a compres, para podermos tirá-la do meio dessas cabras e bodes. Admirando sua dor, Frei Paulo também ficou com pena, mas não sabiam como fazer para pagar, porque não tinham nada além das pobres túnicas que vestiam. Nisso, passou um negociante e lhes ofereceu o preço que queriam. Deram graças a Deus, receberam a ovelha e chegaram a Ósimo, onde se apresentaram ao bispo da cidade. Este os recebeu com muita devoção e ficou muito admirado com a ovelha que o santo levava e com o carinho que lhe demonstrava. Mas o servo de Cristo inventou uma longa parábola sobre a ovelha, e o bispo, com o coração tocado pela sua simplicidade, deu graças a Deus. No dia seguinte, saiu da cidade. Pensando no que devia fazer com a ovelha, seguiu o conselho de seu companheiro e irmão e a confiou à guarda de um convento de irmãs em São Severino. 

As veneráveis servas de Cristo receberam a ovelha como um grande presente de Deus. Cuidaram dela por muito tempo e com sua lã fizeram uma túnica que mandaram levar ao pai São Francisco em Santa Maria da Porciúncula, por ocasião de um capítulo. O santo a recebeu com muita reverência e alegria, beijou-a e convidou todos os presentes a se alegrarem com ele. 79. Numa outra vez em que passou pela Marca, seguido alegremente pelo mesmo companheiro, encontrou um homem que levava para uma feira dois cordeirinhos amarrados e presos ao seu ombro. Ao ouvi-los balir, São Francisco se comoveu, aproximou-se e demonstrou sua compaixão, acariciando-os como uma mãe com o filho que chora. E disse ao homem:

- "Por que estás maltratando desse jeito os meus irmãozinhos, assim amarrados e pendurados?" 

- "Vou levá-los para vender na feira, porque preciso do dinheiro".

- "E o que vai acontecer com eles depois?" 

- "Quem comprar vai matá-los e comer". 

- "De jeito nenhum, isso não vai acontecer. Leva como pagamento a minha capa e me dá os cordeiros". 

O homem entregou os animaizinhos com muita alegria e recebeu a capa, que valia muito mais e que o santo tinha recebido emprestada de um homem piedoso naquele mesmo dia, para se defender do frio. O santo, quando recebeu os cordeirinhos, ficou pensando o que fazer com eles. Seguindo o conselho do irmão que o acompanhava, devolveu-os ao mesmo homem para cuidar deles, mandando-lhe que nunca os vendesse nem lhes fizesse mal algum, mas que os conservasse, alimentasse e tratasse com carinho.


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Pax et bonum

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