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O fervor que tinha São Francisco e a sua doença dos olhos

CAPÍTULO 4 da segunda vida de São Francisco
Fervor de São Francisco. Sua doença dos olhos.

Tão vivo era seu zelo pela salvação das almas e tão grande sua sede pelo bem do próximo que, quando não podia mais andar, percorria as terras montado num jumento. Os frades lhe pediam constantemente que desse um pouco de alívio ao corpo enfermo e tão debilitado, recorrendo ao auxílio dos médicos. Mas ele, com seu nobre espírito voltado para o céu, desejando apenas dissolver-se para estar com Cristo, recusava-se terminantemente a isso.

Por esse tempo, seu corpo começou a padecer diversas doenças, mais graves do que as que já sofrera. Ele sempre tivera alguma enfermidade, pois tinha castigado duramente o corpo, por muitos anos, para reduzi-lo à servidão. Durante dezoito anos completos, seu corpo não tivera quase nenhum descanso, pois tinha andado por várias e extensas regiões, lançando por toda parte as sementes da palavra de Deus com aquele espírito decidido, devoto e fervente que nele residia. 

Tinha enchido a terra inteira com o Evangelho de Cristo: num só dia chegava a passar por quatro ou cinco povoados, ou mesmo cidades, anunciando a todos o Reino de Deus, e edificando os ouvintes tanto pela palavra como pelo exemplo, pois toda a sua pessoa era uma língua que pregava. Sua carne estava tão de acordo e obedecia de tal forma ao seu espírito que, enquanto ele procurava atingir a santidade, o corpo não só não impedia mas até corria na frente, de acordo com o que está escrito: "Minha alma teve sede de vós, e o meu corpo mais ainda". 

A sujeição já era tão costumeira que se tornara voluntária, e pela humilhação diária tinha conquistado toda essa virtude, porque muitas vezes o hábito passa a ser uma segunda natureza. Mas, como é uma lei inelutável da natureza e da condição humana que o homem exterior vá perecendo cada dia, enquanto a interioridade se renova sem cessar, aquele vaso preciosíssimo, em que estava o tesouro escondido, começou a ceder por todos os lados e a se ressentir da perda de forças. Entretanto, "quando o homem crê estar no fim, é então que começa", seu espírito se tornava mais disposto na medida em que a carne estava mais fraca. 

Tão vivo era seu zelo pela salvação das almas e tão grande sua sede pelo bem do próximo que, quando não podia mais andar, percorria as terras montado num jumento. Os frades lhe pediam constantemente que desse um pouco de alívio ao corpo enfermo e tão debilitado, recorrendo ao auxílio dos médicos. Mas ele, com seu nobre espírito voltado para o céu, desejando apenas dissolver-se para estar com Cristo, recusava-se terminantemente a isso. Entretanto, como não tinha completado em sua carne o que faltava na paixão de Cristo, embora carregasse no corpo os seus estigmas, teve uma grave moléstia dos olhos, como se nele Deus quisesse multiplicar sua misericórdia. 

A doença crescia cada vez mais e parecia aumentar dia a dia pela falta de cuidado. Frei Elias, a quem escolhera como sua mãe e colocara como pai dos outros frades, acabou obrigando-o a aceitar o remédio pelo nome do Filho de Deus, por quem tinha sido criado, de acordo com o que está escrito: "O Senhor fez sair da terra os remédios, e o homem sensato não os rejeita". Então o santo pai acedeu de bom grado e obedeceu com humildade aos que o aconselhavam. 


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Pax et bonum

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