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Entrevista com Frei Igor Gonçalves OFMCap. - Campo Grande - MS

Hoje o Apostolado Espírito Franciscano com muita alegria inaugura a sua seção de Entrevistas com o Frei Igor Gonçalves, religioso da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. 
Aproveitem!

Prezado Frei Igor, agradecemos por sua disponibilidade em poder colaborar com o Apostolado Espírito Franciscano concedendo-nos uma entrevista! Para que possamos dar início, os leitores gostariam de saber: quem é Frei Igor OFM Cap.? De onde o senhor é e onde vive atualmente?
Eu me chamo Frei Igor Gonçalves Rezende OFMcap, tenho 22 anos de idade, desde 2013 estou na Ordem Capuchinha, e tenho 3 anos de votos simples. Sou natural de Conceição do Araguaia no estado do Pará e atualmente moro no Convento Nossa Senhora de Fátima em Campo Grande-MS.
Frei Igor ao lado de um belíssimo altar
-É uma verdadeira alegria ver que ainda existem jovens que queiram seguir os passos do Seráfico Patriarca São Francisco de Assis nos dias de hoje. Desde quando o senhor viu que teria vocação para a vida religiosa? Ou melhor, desde quando o senhor chegou a ter a certeza de que seria com os frades capuchinhos?
Aos meus treze anos despertou a vocação, primeiramente ao sacerdócio. Nesse período fui falar das minhas inquietações ao meu bispo diocesano e ele encarregou um frade capuchinho de me acompanhar vocacionalmente. Como era de se esperar o contato com o frade me despertou o desejo da vida religiosa. Eu me encantava com a vida simples e piedosa do frade que sempre estava com seu hábito, sandálias e a característica barba. Depois de um ano de convivência com o frade e discernimento não me restou dúvidas, queria ser um frade capuchinho.
-Claramente quando falamos em frades capuchinhos é inevitável que pensemos em São Padre Pio de Pietrelcina, talvez o mais célebre dos capuchinhos. Pessoalmente, Padre Pio possuiu alguma influência em sua vocação?
Sim, eu costumo dizer que padre Pio foi muito importante para que eu me tornasse capuchinho. Primeiramente me encantei com o seu filme, depois comecei a ler livros e tudo o que tinha acesso sobre padre Pio. O amor de padre Pio pelo santo sacrifício da Missa sempre me inspirou e não menos o seu zelo pela observância da vida religiosa.

Frei Igor OFMCap. professando os seus votos

-O senhor poderia nos falar um pouco a respeito do seu cotidiano como frade capuchinho, o que estuda, como é propriamente o carisma dos capuchinhos e as constituições da ordem?
A nossa vida no Convento Nossa Senhora de Fátima se divide em linhas gerais: Em Oração, Estudos, Pastoral e no meio de tudo isso vivemos nossa vida fraterna. A nossa fraternidade é casa de formação dos frades que estudam filosofia. Os frades também atendem a paróquia Nossa Senhora de Fátima que está junto do convento. Então, aqui tenho como obediência o estudo de filosofia e o trabalho de auxiliar na pastoral paroquial. Esse ano termino o curso de filosofia. O nosso dia-a-dia durante a semana segue um ritmo bem definido, acordamos por volta das 5:30, as 6 horas temos a oração da Laudes, tomamos café da manhã e seguimos para a faculdade onde estudamos até meio-dia. Almoçamos ao meio-dia e meia, depois temos um breve descanso. Às 14:30 dependendo do dia temos formação, reunião fraterna ou trabalhos. Às 17:45 rezamos as Vésperas e a noite cada frade se dedica aos estudos pessoais ou outra atividade. O nosso fim de semana além da oração e estudo temos as atividade pastorais. Os sacerdotes se encarregam das missas, confissões e atendimentos. Também durante a semana temos a santa missa no convento ou na igreja paroquial, temos também a récita do santo terço e adoração eucarística. De modo geral esse é nosso dia-a-dia nessa fraternidade, claro que a rotina varia de convento pra convento.
Frei Igor, ao fundo, no canto superior esquerdo, com a sua comunidade capuchinha de Campo Grande - Mato Grosso do Sul
As nossas constituições foram revistas, atualizadas e aprovadas pelo Santo Padre o Papa Francisco em 2014, após o nosso Capítulo Geral em Roma. A Constituição serve para melhor vivermos o carisma e a regra em nosso tempo, pois os frades estão espalhados por mais de cem países, ou seja, muitas culturas diferentes e por isso a constituição deve ser abrangente, atualizando nossa forma de vida sem perder o essencial. 


-Acredito que a história da reforma dos capuchinhos ainda pode soar um pouco "obscura" para alguns dos nossos leitores. Poderia também nos falar um pouco desta reforma e da sua importância na história da igreja?


A reforma capuchinha iniciou com o desejo de um frade chamado Frei Mateus de Bascio OFM, ele percebeu que os franciscanos do seu período tinham se afastado dos propósitos de São Francisco e também relaxado na observância da regra. E Frei Mateus querendo viver como viviam os primeiros frades pede ao papa para poder viver em eremitério, com o hábito com um capuz pontiagudo que fosse mais próximo do de São Francisco e usar barba, o papa concede a licença e Frei Mateus começa esse estilo de vida, depois com o passar do tempo outros frades da observância começaram a se unir a Frei Mateus, dando início à Ordem Capuchinha.


Frei Igor auxiliando a Santa Missa

A Ordem teve grande importância para a Igreja desde a sua fundação, pois surgiu no período da Contra Reforma protestante. E o Papa envia os frades para várias partes do mundo para estabelecer a fé católica através da “Propaganda Fidei”, assim também os capuchinhos chegaram no Brasil. Depois a Ordem também deu à Igreja muitos santos e beatos. Uma curiosidade que muitos não sabem é que o pregador do Papa há muito tempo é sempre um frade capuchinho.
-Campo Grande é uma cidade relativamente nova. Qual a história da missão dos capuchinhos nesta cidade?
Os capuchinhos que chegaram à região de Mato Grosso foram os frades gaúchos na década de 1950, primeiramente com as missões capuchinhas levando sempre a milagrosa imagem de Nossa Senhora de Fátima. Também por necessidade da Igreja os frades assumem paróquias no estado, e também em Campo Grande que até então era a sede da missão e da custódia dos capuchinhos do Brasil Central. Aqui os frades desenvolveram seu apostolado, de forma especial na paróquia, também ajudaram na criação do instituto de teologia da arquidiocese. Hoje os frades são conhecidos em Campo Grande principalmente pelo apostolado do confessionário, sempre tem um frade capuchinho ouvindo a confissão dos fiéis na igreja ou no convento.
Rara imagem: cortesia de Frei Igor dos primeiros capuchinhos que iniciaram as missões em Campo Grande - Mato Grosso do Sul.
-Como falamos um pouco acima, São Padre Pio é o capuchinho mais conhecido. Mas há também muitos outros capuchinhos igualmente extraordinários, como São Felix de Cantalice, muito festejado aqui na cidade do Recife. Quais outros santos capuchinhos o senhor recomendaríamos procurar e conhecer?
Graças a Deus a lista dos capuchinhos que ascenderam aos altares é grande. A “bela e santa reforma” ficou conhecida também como fábrica de santos, pela quantidade de santos canonizados que passa de 30. Temos santos muito expressivos e com histórias de vida que certamente podem ajudar na nossa santificação. Entre eles destaco  São Fidélis de Sigmaringa, o primeiro mártir da Ordem; São Leopoldo Mandic, que se ofereceu pela volta dos ortodoxos à comunhão com a Sé de Pedro; Santa Verônica Giulliani, monja capuchinha que escreveu um diário com 22 mil páginas e também recebeu os estigmas; São Conrado de Parzham, irmão leigo. A Ordem tem dezenas de santos e beatos, incluindo frades e monjas. No nosso site tem sempre uma síntese da história de cada um, vale a pena dar uma olhada.

-A temática sobre espiritualidade e ascese é um assunto sempre muito intrigante e prazeroso de se ouvir e estudar. Como o senhor poderia nos falar da espiritualidade franciscana para quem deseja buscar a santidade por meio dela? Como é que o senhor vive sua espiritualidade em seu dia a dia?
A espiritualidade franciscana é muito rica e abrangente, todos podem vive-la em seu estado de vida, sacerdote, religioso, leigo... Nossa espiritualidade tem como fundamento três aspectos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo: A Encarnação do Verbo, a paixão do Senhor na Cruz e a Santíssima Eucaristia. Nós franciscanos estamos ligados à humanidade de Jesus, seguimos Cristo pobre e crucificado. Tudo isso vivido em fraternidade e alegre austeridade. Eu vivo a espiritualidade franciscana-capuchinha tanto pessoalmente nas minhas orações e devoções, e também com os irmãos vivendo a vida espiritual da fraternidade.     
Frei Igor OFMCap.
-Estar afastado do mundo é uma graça enorme. O senhor vivendo em um convento, tendo uma capela com o Santíssimo Sacramento ao seu alcance 24h por dia é verdadeiramente uma fonte de graças infinitas. As lutas de quem vive no mundo são muito diferentes das lutas de quem está fora dele, como é o caso dos religiosos. Falando como um religioso consagrado a Cristo por meio dos votos e do seu estado de vida, quais são as lutas mais comuns para um religioso no que se refere à caminhada para a perfeição e a santidade? E quais são as recomendações do senhor para os que vivem no mundo e que têm um sincero desejo de serem santas?

Sabemos que temos três inimigos: a carne, o mundo e o demônio. A primeira luta que travamos é contra nós mesmos. Vencer nossas inclinações e assumir a santidade de vida que nos propomos viver é um trabalho para a vida toda. Com minha pouca experiência de vida religiosa posso dizer que persevera na vida religiosa aquele que é fiel às pequenas coisas, aos afazeres diários, a oração constante, a vida de penitência, o diálogo com os irmãos, o serviço ao povo de Deus, de modo especial aos pobres, tudo isso são meios que devemos usar para dar passos na vida de santidade. Portanto vencer a si mesmo é a maior luta, porque somos muito egoístas, queremos fazer sempre nossa vontade. Quanto a isso uma coisa que nos ajuda no convento é o voto de obediência que muitas vezes quebra nossa vontade, e claro devemos ter humildade para reconhecer na ordem do superior a vontade de Deus. Acima de tudo deve estar o amor a Deus, quando fazemos tudo por amor a Deus as coisas se tornam leves, mesmo as maiores adversidades são vencidas quando se ama. O conselho que dou para os que querem ser santos é que se deve buscar a Deus e viver com simplicidade, reconhecer no mundo a presença de Deus e amá-lO, ser fiel as pequenas coisas que fazemos e fazê-las com espirito de oração e penitência.

-Se o senhor recomendasse algum escrito espiritual franciscano aos nossos leitores, qual seria?
Com certeza as Fontes Franciscanas e Clarianas é o que temos de melhor, porque realmente são os primeiros escritos e muitos deles do próprio São Francisco e de Santa Clara.
Frei Igor ao lado de uma imagem de Santo Antônio de Pádua, e ao fundo, a Cruz de São Damião, crucificado de muito valor para todos os franciscanos do mundo.
Vamos agora às nossas perguntas rápidas, diga-nos:



Um santo franciscano?
São Maximiliano Maria Kolbe

Um santo capuchinho?
São Pio de Pietrelcina.

Um dia memorável em sua vida religiosa?
Dia dos meus votos.

Um escrito franciscano que o senhor mais gosta?
Os que foram escritos pelo próprio São Francisco. (Regra, cartas...)

Qual o autor espiritual preferido pelo senhor?
Gosto muito das cartas escritas pelo Padre Pio ao seu diretor espiritual.

O seu livro preferido das Sagradas Escrituras?
O Cântico dos Cânticos.

Se o senhor não fosse franciscano, qual seria a outra ordem religiosa que o senhor gostaria de fazer parte?
Trapista.

Um versículo das Escrituras que o senhor mais gosta?
“Vós estais mortos e a vossa vida escondida com Cristo em Deus”. (Colossenses 3,3)

Caríssimo Frei Igor, lhe agradecemos profundamente por sua atenção e disposição em atender a esta entrevista! Certamente os nossos leitores irão ser edificados bastante com suas palavras. Pedimos que reze pelo nosso Apostolado e por todos os nossos leitores, e pode deixar que também que os nossos leitores, que são muito fiéis às nossas postagens e interagem bastante conosco, também rezarão pelo senhor e por sua vocação religiosa.

1 comentários:

Guilherme Espíndola OFS disse...

Belíssima entrevista. Realmente não é a toa que a Ordem Capuchinha por tempos foi conhecida como a ordem mais piedosa da Igreja e não é a toa que possui tantos santos, beatos e servos de Deus. É um carisma ímpar no franciscanismo. Parabéns Frei Igor por sua resposta a vocação e parabéns a equipe do blog pelo ótimo trabalho realizado. Paz e bem!

 

São Francisco de Assis

São Francisco de Assis
Seráfico Patriarca, pai da Ordem dos Frades Menores

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