(CAPÍTULO 9 do livro da Primeira Vida de São Francisco, do frade Tomás de Celano) - Francisco muda o hábito e repara a igreja de
Santa Maria da Porciúncula. Tendo ouvido o Evangelho,
abandona tudo.- Imagina e faz o hábito que os frades usam.
Depois que o santo de Deus trocou de hábito e acabou de reparar a mencionada igreja [de São Damião], mudou-se para outro lugar próximo da cidade de Assis. Aí começou a reedificar outra igreja, abandonada e quase destruída, e desde que pôs mãos à obra não parou enquanto não terminou tudo.
Dali passou a outro lugar, chamado Porciúncula, onde havia uma
antiga igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus, mas estava
abandonada e nesse tempo não era cuidada por ninguém. Quando o
santo de Deus a viu tão arruinada, entristeceu-se porque tinha
grande devoção para com a Mãe de toda bondade, e passou a morar
ali habitualmente. No tempo em que a reformou, estava no terceiro
ano de sua conversão. Por essa época, usava um hábito de ermitão,
cingido com uma correia, e andava com um bastão e calçado. Leu-se certo dia, naquela igreja, a passagem do Evangelho que
conta como o Senhor enviou seus discípulos a pregar. O santo de
Deus estava presente e escutava atentamente todas as palavras.
Depois da missa, pediu encarecidamente ao sacerdote que lhe
explicasse o Evangelho.
Ele repassou tudo e Francisco, ouvindo que
os discípulos não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem levar
bolsa ou sacola, nem pão, nem bastão pelo caminho, nem ter
calçados ou duas túnicas, mas pregar o reino de Deus e a
penitência, entusiasmou-se imediatamente no espírito de Deus: "É
isso que eu quero, isso que procuro, é isso que eu desejo fazer de
todo o coração".
Transbordando de alegria, apressou-se o santo pai a concretizar o
salutar conselho, e sem demora pôs devotamente em prática o que
ouvira. Tirou as sandálias, deixou de lado o bordão e, contente com
uma só túnica, substituiu a correia por uma corda. Preparou depois
uma túnica que apresentava o sinal da cruz, para afastar com ela
todas as fantasias demoníacas. Fê-la muito áspera, para crucificar a
carne com os vícios e os pecados. Fê-la muito pobre e mal acabada,
para de maneira alguma poder ser ambicionada pelo mundo.
E procurou praticar com toda diligência e reverência também as outras coisas que ouvira. Pois não era surdo ao Evangelho, antes
guardava tudo com uma memória admirável e tratava de executá-lo à
risca.
A regra bulada da ordem dos Frades Menores possui um capítulo que trata especialmente do hábito dos frades:
Capítulo 2 da regra bulada, pontos 9, 10, 11, 14, 15, 16 e 17:
9. [...] Depois concedam-lhes os panos da provação, a saber, duas túnicas sem capuz e o cíngulo, e bragas e um caparão até o cíngulo,10. a não ser que aos mesmos ministros alguma vez pareça melhor outra coisa, segundo Deus.11. Mas, acabado o ano da provação, sejam recebidos na obediência, prometendo observar sempre esta vida e regra.14. E os que já prometeram obediência tenham uma túnica com capuz e outra sem capuz, os que quiserem ter.15. E os que são forçados por necessidade possam levar calçado.16. E todos os frades vistam-se de roupas vis e possam remendá-las com sacos e outros retalhos com a bênção de Deus.17. Os quais admoesto e exorto a que não desprezem nem julguem os homens que virem vestidos com roupas finas e coloridas, usando comidas e bebidas delicadas, mas antes julgue e despreze cada um a si mesmo.
Curiosidade: segue uma foto do hábito usado por São Francisco de Assis, uma relíquia de 2º grau exposta em Chiusi della Verna, comuna italiana da região da Toscana.
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Pax et bonum
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