(Capítulo 18 do livro da Primeira Vida de São Francisco de Assis) - O carro de fogo. Conhecimento das coisas
ausentes.
Muitas outras vezes tinham comprovado, por sinais manifestos, que os segredos de seus corações não eram desconhecidos por seu santo pai. Quantas vezes, sem que ningu+ém dissesse, mas por revelação do Espírito Santo, soube o que estavam fazendo frades ausentes, manifestou segredos de seus corações e penetrou as consciências!
Porque caminhavam com simplicidade diante de Deus e com
segurança diante dos homens, nessa ocasião mereceram os frades
a alegria de uma revelação divina. Certa noite, inflamados pelo
Espírito Santo, estavam cantando suplicantes o pai-nosso sobre
uma melodia religiosa (pois não rezavam só nas horas marcadas
mas em qualquer hora, uma vez que não tinham preocupações
terrenas), quando o bem-aventurado pai se ausentou corporalmente
deles. Lá pela meia-noite, quando alguns frades descansavam e
outros rezavam em silêncio com devoção,entrou pela pequena porta
um rutilante carro de fogo, deu duas ou três voltas para cá e para lá
na casa, tendo sobre ele um globo enorme, que era parecido com o
sol e iluminou a noite. Os que estavam acordados se espantaram e
os que estavam dormindo se assustaram, pois sentiram uma
claridade não só corporal mas também interior. Reuniram-se e
começaram a discutir entre si o que seria aquilo: por força e graça
de toda aquela luz, cada um enxergava a consciência do outro.
Compreenderam afinal que a alma do santo pai brilhava com
tamanho fulgor que, sobretudo por sua pureza e por seu zeloso
cuidado pelos filhos, tinha conseguido de Deus a graça desse
enorme benefício.
Muitas outras vezes tinham comprovado, por sinais manifestos,
que os segredos de seus corações não eram desconhecidos por seu
santo pai. Quantas vezes, sem que ninguém dissesse, mas por
revelação do Espírito Santo, soube o que estavam fazendo frades
ausentes, manifestou segredos de seus corações e penetrou as
consciências! A quantos aconselhou em sonhos, dizendo o que
deviam fazer ou deixar de fazer! A quantos, que estavam
manifestamente bem no presente, previu males no futuro! Da mesma
maneira, previu para muitos o fim de seus pecados e lhes anunciou
a graça da salvação. Houve até um que, distinguido por especial
espírito de pureza e simplicidade, pôde ter a consolação de
contemplá-lo de maneira especial, não dada aos outros.
Vou contar um caso entre os muitos que soube por testemunhas de
confiança. No tempo em que Frei João de Florença foi feito por São
Francisco ministro dos frades da Provença e estava celebrando o capítulo dos frades daquela Província, o Senhor Deus lhe abriu a
boca para falar com a piedade costumeira e fez todos os frades
ouvirem com benévola atenção. Havia entre eles um irmão
sacerdote, célebre pela fama e mais ainda pela vida. Chamava-se
Monaldo e sua virtude, fundamentada na humildade e auxiliada pela
oração freqüente, era protegida pelo escudo da paciência.
Estava
participando do capítulo também Frei Antônio, a quem o Senhor
abrira a inteligência para compreender as Escrituras, e que falava de
Jesus a todo o povo com palavras mais doces que o mel. Enquanto
Frei Antônio estava pregando com fervor e devoção aos frades sobre
as palavras: "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus", o referido Frei
Monaldo olhou para a porta da casa em que os frades estavam
reunidos e viu com seus próprios olhos o bem-aventurado Francisco
elevado no ar, com as mãos abertas em cruz, abençoando os frades.
Sentiam-se todos cheios de consolação do Espírito Santo e de gozo
salutar, e por isso acreditaram quando ouviram falar da presença e
da visão do glorioso pai.
49. Para confirmar que conhecia os segredos dos corações, vou
escolher, entre muitos, um caso que está acima de qualquer dúvida.
Um frade, chamado Ricério, nobre de nascimento e mais ainda por
sua vida, que amava a Deus e fazia pouco de si mesmo, queria
piedosa e ardentemente conseguir todo afeto do santo pai Francisco
e por isso tinha muito medo de que o santo deixasse de gostar
dele por algum motivo oculto, privando-o assim do seu afeto. Muito
timorato, julgava o frade que aquele a quem São Francisco muito
amasse seria digno de merecer a graça de Deus. Pelo contrário,
achava que mereceria o castigo do juiz eterno aquele que não
merecesse sua benevolência e atenção. Estava sempre pensando
nisso, e até falava consigo mesmo em silêncio, sem revelar a
ninguém o seu segredo. Um dia, quando o santo pai estava rezando em sua cela e o
referido frade apareceu por ali, perturbado pelo pensamento de
sempre, o santo de Deus teve conhecimento tanto de sua chegada
como de sua preocupação. Imediatamente mandou chamá-lo e lhe
disse: "Filho, não te deixes perturbar por nenhuma tentação.
Nenhum pensamento te angustie. Eu gosto muito de ti, e podes ficar
sabendo que estás entre os que mais estimo e és digno de minha
amizade. Podes vir aqui quando quiseres, e falar comigo com toda a
confiança". O frade ficou admiradíssimo e aumentou sua veneração:
começou a crescer com confiança ainda maior na misericórdia de
Deus na medida em que cresceu na amizade do santo pai.
Como deve ser duro suportar tua ausência, pai santo, por quem já
desanimou de encontrar outro igual a ti nesta terra! Rogamos que
ajudes com tua intercessão os que vês envolvidos nos laços do
pecado. Estavas cheio do espírito de todos os justos, previas o
futuro e conhecias o presente. Apesar disso, sempre te destacavas
pela simplicidade, para fugir da vanglória.
T
Pax et bonum
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